Insistir no Sonho é Desarmar Ratoeiras
Medo e macroeconomia
são os fantasmas que assombram o processo de formação de
um empresário. É difícil arriscar o patrimônio de
toda uma vida, quando os negócios dependem mais da caneta de um ministro
do que do bom senso. Mas quem tem um sonho faz a travessia, desde que fique
atento às armadilhas, geradas em sua maioria pela ação
dispersiva de tentar de tudo para vencer - que nem sempre significa apenas
ganhar dinheiro, mas principalmente atingir a realização pessoal.
Acertar esse rumo é a missão de Cirinei Aparecido Silva,
que, em 1987, fundou a SAC Indústria e Comércio Ltda. - tel.:
(011) 940-7880 -, em Guarulhos. Eletrotécnico com formação
em administração de empresas, ele palmilhou penoso ciclo de insatisfações
antes de decidir ser um empresário de verdade. Quando estava empregado,
resolveu mudar de empresa para poder trabalhar não só como técnico
mas também como vendedor. Depois, rompeu esse vínculo empregatício
para terceirizar seus serviços. Mais tarde, abandonou o cliente único
- seu ex-patrão - para enfrentar o mercado.
No início, trabalhava com revenda, mas acabou virando industrial, produzindo
resistências elétricas diferenciadas para um mercado problemático
e sazonal. Hoje, com numerosos projetos na gaveta e alguns produtos desenvolvidos
a partir das necessidades dos clientes - como sensores de temperatura -,
ele vê-se prestes a realizar seu sonho. É sobre isso que ele fala
no depoimento a seguir.
VONTADE GERA MUDANÇAS
"Quando eu era apenas um vendedor, minha única responsabilidade
era visitar os clientes, dar um atendimento, transformar tudo em pedido e receber
a comissão. Aí resolvi subir mais um degrau e montei a empresa
com o objetivo também de ganhar dinheiro. Mas quem tem essa mentalidade
não chega a ser um empresário. Para mim, as empresas é
que fazem a sociedade sobreviver e funcionar. Existe uma responsabilidade muito
grande.
Para ser empresário no Brasil é preciso ter vontade. Sem isso,
não se faz nada. Quando fui desafiado a montar minha empresa, decidi
arriscar tudo o que tinha. Não consegui mais voltar a ser empregado,
portanto, só tinha um caminho pela frente, que era construir alguma coisa,
gerar emprego, realizar-me. Só que no nosso país fica muito difícil,
pois você acaba perdendo tudo com tanto plano errado do governo. Deveria
até haver um seguro contra isso.
Passei por diversos apertos e, hoje, meu único patrimônio é
minha indústria, o prestígio que temos no mercado e o conhecimento
adquirido. Aos poucos, estou aprendendo a ser empresário, pois, graças
ao SEBRAE/SP, resolvi seguir um caminho diferente. Eu estava sofrendo nas mãos
de um banco e fui lá pedir uma orientação, saber onde eu
estava errando. Fui orientado, então, para ver que meu problema não
era o banco, era minha organização interna e as prioridades na
produção."
RESISTÊNCIAS, SENSORES E CABOS
"Eu estava precisando de uma direção. Estava fazendo um monte
de coisa ao mesmo tempo, sem seguir um rumo. Era preciso saber o que eu estava
realmente querendo. Se tivesse uma dúvida, deveria resolvê-la,
e não deixá-la pendente. Descobri, então, que, até
aquela altura, eu tinha só sobrevivido, pagando as contas e sofrendo
muito. Precisava enxergar melhor: de tudo o que eu produzia, o que era melhor,
mais promissor?
Nossa empresa é conceituada no ramo de resistências, e temos grandes
clientes, que são atendidos com prazo, qualidade e preços adequados.
Mas esse é um setor que sofreu bastante com a recessão, pois muitos
técnicos e engenheiros que ficaram desempregados montaram microempresas,
sendo que muitas delas aviltaram os preços. Isso, praticamente, prostituiu
o mercado. A saída foi fazer resistências diferenciadas, sob medida,
mas, mesmo assim, temos problemas de sazonalidade - de dezembro a fevereiro
vendemos muito pouco.
O setor de resistência é o termômetro do mercado. Se a economia
está aquecida, ele é o primeiro que dá o alarme, pois,
para fabricar qualquer coisa, é preciso de resistências. E, com
a crise, existiam muitas máquinas paradas, que só nos últimos
meses voltaram a funcionar. Mantive a produção de resistências,
mas resolvi dar uma virada. Para sair do banco, desfiz-me de muita coisa e consegui
pagar toda a dívida. Fiz mudanças na fábrica, retomei o
trabalho de vendas, arrumei a parte de contabilidade e centrei forças
em novos produtos, como sensores e cabos.
Sempre fui projetista e montador nas áreas de eletrotécnica, pneumática
e hidráulica. Quando era empregado, desenvolvi um sistema de ar quente
para uma centrífuga de secagem de sal, que gerou um monte de dinheiro
para a empresa em que trabalhava. Isso me incentivou a criar a SAC. Como vendedor
técnico, descobri a possibilidade de fazer novos produtos e, por isso,
desenvolvi o sensor Termopar, que é um aparelho que emite sinais para
controlar as temperaturas de equipamentos industriais. E também desenvolvi
um cabo especial para sensores, que não existia no mercado, que resolveu
sérios problemas na produção de clientes importantes."
OS GRANDES VÃO DEPENDER DOS PEQUENOS
"Já tive trinta pessoas trabalhando na empresa, hoje, são
dezessete. Mas, além dos planos econômicos, temos os problemas
dos sindicatos, aumentos abusivos de salários, com que as empresas pequenas
não podem arcar. Uma grande empresa - estou falando das multinacionais
- adquire o próprio mercado, coloca o preço nos seus produtos
e, assim, tem condições de enfrentar os imprevistos. Isso ocorre
muito no fornecimento de matéria-prima, como latão, alumínio,
níquel cromo, em que poucas companhias dominam tudo. Mas a tendência
é a terceirização em todo o mundo, e aqui está ocorrendo
o mesmo. Aos poucos, existem, cada vez mais, pequenos fornecedores que estão
adquirindo conhecimento sobre o processamento industrial e criando uma nova
estrutura no mercado. Acho que vai acontecer aqui o que aconteceu na Europa
e no Japão. As grandes, hoje, estão dependendo das pequenas empresas,
pois isso facilita o trabalho e aumenta os lucros."
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