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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 142 (25/12/1994)

Insistir no Sonho é Desarmar Ratoeiras

Medo e macroeconomia são os fantasmas que assombram o processo de formação de um empresário. É difícil arriscar o patrimônio de toda uma vida, quando os negócios dependem mais da caneta de um ministro do que do bom senso. Mas quem tem um sonho faz a travessia, desde que fique atento às armadilhas, geradas em sua maioria pela ação dispersiva de tentar de tudo para vencer - que nem sempre significa apenas ganhar dinheiro, mas principalmente atingir a realização pessoal.
Acertar esse rumo é a missão de Cirinei Aparecido Silva, que, em 1987, fundou a SAC Indústria e Comércio Ltda. - tel.: (011) 940-7880 -, em Guarulhos. Eletrotécnico com formação em administração de empresas, ele palmilhou penoso ciclo de insatisfações antes de decidir ser um empresário de verdade. Quando estava empregado, resolveu mudar de empresa para poder trabalhar não só como técnico mas também como vendedor. Depois, rompeu esse vínculo empregatício para terceirizar seus serviços. Mais tarde, abandonou o cliente único - seu ex-patrão - para enfrentar o mercado.
No início, trabalhava com revenda, mas acabou virando industrial, produzindo resistências elétricas diferenciadas para um mercado problemático e sazonal. Hoje, com numerosos projetos na gaveta e alguns produtos desenvolvidos a partir das necessidades dos clientes - como sensores de temperatura -, ele vê-se prestes a realizar seu sonho. É sobre isso que ele fala no depoimento a seguir.

VONTADE GERA MUDANÇAS
"Quando eu era apenas um vendedor, minha única responsabilidade era visitar os clientes, dar um atendimento, transformar tudo em pedido e receber a comissão. Aí resolvi subir mais um degrau e montei a empresa com o objetivo também de ganhar dinheiro. Mas quem tem essa mentalidade não chega a ser um empresário. Para mim, as empresas é que fazem a sociedade sobreviver e funcionar. Existe uma responsabilidade muito grande.
Para ser empresário no Brasil é preciso ter vontade. Sem isso, não se faz nada. Quando fui desafiado a montar minha empresa, decidi arriscar tudo o que tinha. Não consegui mais voltar a ser empregado, portanto, só tinha um caminho pela frente, que era construir alguma coisa, gerar emprego, realizar-me. Só que no nosso país fica muito difícil, pois você acaba perdendo tudo com tanto plano errado do governo. Deveria até haver um seguro contra isso.
Passei por diversos apertos e, hoje, meu único patrimônio é minha indústria, o prestígio que temos no mercado e o conhecimento adquirido. Aos poucos, estou aprendendo a ser empresário, pois, graças ao SEBRAE/SP, resolvi seguir um caminho diferente. Eu estava sofrendo nas mãos de um banco e fui lá pedir uma orientação, saber onde eu estava errando. Fui orientado, então, para ver que meu problema não era o banco, era minha organização interna e as prioridades na produção."

RESISTÊNCIAS, SENSORES E CABOS
"Eu estava precisando de uma direção. Estava fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo, sem seguir um rumo. Era preciso saber o que eu estava realmente querendo. Se tivesse uma dúvida, deveria resolvê-la, e não deixá-la pendente. Descobri, então, que, até aquela altura, eu tinha só sobrevivido, pagando as contas e sofrendo muito. Precisava enxergar melhor: de tudo o que eu produzia, o que era melhor, mais promissor?
Nossa empresa é conceituada no ramo de resistências, e temos grandes clientes, que são atendidos com prazo, qualidade e preços adequados. Mas esse é um setor que sofreu bastante com a recessão, pois muitos técnicos e engenheiros que ficaram desempregados montaram microempresas, sendo que muitas delas aviltaram os preços. Isso, praticamente, prostituiu o mercado. A saída foi fazer resistências diferenciadas, sob medida, mas, mesmo assim, temos problemas de sazonalidade - de dezembro a fevereiro vendemos muito pouco.
O setor de resistência é o termômetro do mercado. Se a economia está aquecida, ele é o primeiro que dá o alarme, pois, para fabricar qualquer coisa, é preciso de resistências. E, com a crise, existiam muitas máquinas paradas, que só nos últimos meses voltaram a funcionar. Mantive a produção de resistências, mas resolvi dar uma virada. Para sair do banco, desfiz-me de muita coisa e consegui pagar toda a dívida. Fiz mudanças na fábrica, retomei o trabalho de vendas, arrumei a parte de contabilidade e centrei forças em novos produtos, como sensores e cabos.
Sempre fui projetista e montador nas áreas de eletrotécnica, pneumática e hidráulica. Quando era empregado, desenvolvi um sistema de ar quente para uma centrífuga de secagem de sal, que gerou um monte de dinheiro para a empresa em que trabalhava. Isso me incentivou a criar a SAC. Como vendedor técnico, descobri a possibilidade de fazer novos produtos e, por isso, desenvolvi o sensor Termopar, que é um aparelho que emite sinais para controlar as temperaturas de equipamentos industriais. E também desenvolvi um cabo especial para sensores, que não existia no mercado, que resolveu sérios problemas na produção de clientes importantes."

OS GRANDES VÃO DEPENDER DOS PEQUENOS

"Já tive trinta pessoas trabalhando na empresa, hoje, são dezessete. Mas, além dos planos econômicos, temos os problemas dos sindicatos, aumentos abusivos de salários, com que as empresas pequenas não podem arcar. Uma grande empresa - estou falando das multinacionais - adquire o próprio mercado, coloca o preço nos seus produtos e, assim, tem condições de enfrentar os imprevistos. Isso ocorre muito no fornecimento de matéria-prima, como latão, alumínio, níquel cromo, em que poucas companhias dominam tudo. Mas a tendência é a terceirização em todo o mundo, e aqui está ocorrendo o mesmo. Aos poucos, existem, cada vez mais, pequenos fornecedores que estão adquirindo conhecimento sobre o processamento industrial e criando uma nova estrutura no mercado. Acho que vai acontecer aqui o que aconteceu na Europa e no Japão. As grandes, hoje, estão dependendo das pequenas empresas, pois isso facilita o trabalho e aumenta os lucros."


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