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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 151 (26/02/1995)

Armadilhas Desafiam as Boas Intenções

Talvez a maior frustração do empresário brasileiro, hoje, seja a diferença entre a realidade e as propostas para melhorar o mundo dos negócios. Como colocar em prática novos hábitos e sobreviver diante das numerosas armadilhas do mercado? Como trabalhar com fornecedores que entregam matéria-prima adulterada ou vendem equipamentos e depois não se responsabilizam pela instalação, funcionamento e manutenção do que fabricam? Como conviver com a inveja profissional dentro e fora do empreendimento?
Falando sobre seu negócio, esse tema - o fosso entre modernidade e barbárie no Brasil dos anos 90 - acaba emergindo no depoimento a seguir, da empresária Analucia Jardim, da Boulangerie Violette - tel.: (011) 575-5199. Lidando com um produto que é símbolo da pureza, o pão, ela luta para definir uma série de situações empresariais. Primeiro, a importância de resgatar o objetivo essencial da padaria, que é vender pão sem querer competir com o supermercado. Segundo, tentar impor-se num universo profissional - a panificação - dominado pelos homens. Terceiro, consolidar um cenário de associativismo com empresários que pensam como ela. E, quarto, praticar a cartilha do empreendimento bem-sucedido, que é arriscar todo o patrimônio numa idéia e agir estrategicamente, planejando tudo.

A TENTAÇÃO DOS ALIMENTOS

"Vim de uma formação humanista, cursei Filosofia em Uberaba, Minas Gerais, lá trabalhei num projeto educacional e vim para São Paulo tentar novas oportunidades. A experiência na área de marketing de uma grande multinacional japonesa despertou-me o gosto e a vocação para administrar. Foi quando começou a pulsar uma grande vontade de ser dona do próprio negócio. Depois de ser tentada a entrar em vários nichos, constatei que é no setor alimentício que as pessoas costumam vencer.
Eu me propus a ser uma vencedora nessa área, mesmo desconhecendo totalmente o mercado e os métodos de fabricação. Habilidade natural e formação humanista foram fundamentais para o sucesso, pois, se não sei fazer pão, posso administrar quem sabe fazer. Como respeito a pessoa humana, respeito meu cliente, fornecedor, funcionário ou colaborador. O que parece uma tarefa simples se torna de muito difícil execução na prática.
Investi US$ 200 mil acumulados em 23 anos de vida: vendi apartamento, automóveis, linhas telefônicas. E tudo o que foi ganho na empresa foi reinvestido aqui mesmo. Todo o investimento está na capitalização e na valorização do negócio. Temos trinta funcionários registrados, que nos desafiam a fazer um trabalho motivacional, já que não estamos aqui para dar ordens. Esse relacionamento é bastante difícil, mas aprendemos a lidar com essa realidade, depois de muito esforço."

PADARIA NÃO É SUPERMERCADO -
"A idéia é inspirada nas boulangeries francesas. Lá, eles não vendem pilhas de lanterna ou bolas de pingue-pongue, só pão. Na nossa boulangerie, não vendemos cigarros nem bebidas alcoólicas. Aqui, as mulheres tomam café no balcão e temos um salão de chá no piso superior da loja. Procuramos destacar essa diferenciação num setor que é essencialmente dirigido pelos homens. Mas é sempre bom lembrar que o forno é uma invenção feminina.
Cuidamos também da manutenção da qualidade do nosso produto. Negociamos com o fornecedor para entregar um produto puro, sem mistura. Queremos resgatar a dignidade do pão, com farinha pura, água filtrada, sal marinho, fermentação mais natural. Graças ao programa Empretec, do SEBRAE/SP, conseguimos fazer contato com uma empresa especializada, que vai cuidar de toda a nossa formatação de receitas.
Estamos, também, lançando produtos novos, como o Baguepizza, que já é uma marca registrada no INPI. Nossas receitas são básicas, o que faz a diferenciação é a responsabilidade e o nosso comprometimento com a qualidade. Muitas vezes, as pessoas querem ganhar no preço final, comprando matérias-primas sem qualidade, e aí tudo começa a tomar um sentido prejudicial ao consumidor e à própria empresa, e isso nós não admitimos."

SOBREVIVÊNCIA EMOCIONAL
"A qualificação profissional do setor é inexistente, e nós, empreendedores, temos que cuidar de tudo. Faltam, inclusive, noções básicas de higiene e alfabetização para a mão-de-obra que existe disponível no mercado. É preciso ser um grande ator, um artista e um equilibrista para poder sobrepor-se às dificuldades. É fundamental ter um horizonte amplo, enxergar a longo prazo.
Participando do Empretec, descobri que, metodologicamente, faço parte de um grupo diferenciado de empreendedores. Até então, eu estava navegando para uma sobrevivência, mas vi que é preciso atentar não só para o aspecto econômico mas também psicológico, emocional e afetivo de todo o processo administrativo que envolve uma empresa inteligente. Faço parte de um grupo que está interessado num mundo melhor.
Acho que estão faltando líderes empresariais no Brasil que provem que a busca do bem comum é possível. Mas acho que, devido às circunstâncias mundiais que estamos vivendo, esses líderes vão começar a surgir. Em todos os segmentos, há necessidade de investimentos, para que se busque a sobrevivência com qualidade de vida."


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