Como Melhorar a Competitividade
Inexistência de economia de escala e supervalorização da moeda são os dois principais obstáculos que devem ser superados para a indústria brasileira ganhar competitividade e vencer a concorrência no processo de globalização. Enquanto nos EUA, sob o aspecto do faturamento, uma empresa vende o equivalente a três vezes o que investe, no Brasil essa relação é de meia vez, devido à produção insuficiente. Uma parcela do produto brasileiro custa mais caro, porque não temos produção em quantidade que possibilite redução de custos. Para conseguir alcançar escala de produção e tornar-se competitivo com a economia norte-americana, hoje, será imprescindível diluir o custo estrutural do segmento industrial, ou seja, para cada seis, terá que restar apenas o custo correspondente a uma empresa. A análise, no depoimento exclusivo a seguir, é do professor Alberto Borges Matias, da Faculdade de Administração da USP - Tel.: (11) 818-6044 - e sócio da empresa internacional de consultoria Austin Asis. A seu ver, isso já está acontecendo, também, com o setor bancário, de onde sumiram os pequenos bancos de varejo, há apenas alguns poucos estabelecimentos médios e raros grandes, que logo serão menos ainda.
GLOBALIZAÇÃO A SERVIÇO DO BEM-ESTAR
"A globalização econômica deverá ser repensada, à luz dos objetivos nacionais. Antes de abrir-se à economia mundial, a nação deve visar primordialmente a melhora do bem-estar social. Impõe-se saber a necessidade da globalização para alcançar tal objetivo. A resposta, em minha opinião, é que não é preciso globalizar tudo, indiscriminadamente e muito menos da forma como está sendo feita, ou seja, privilegiando com melhores condições o capital estrangeiro. Por exemplo, entre China e Brasil, a diferença de câmbio é de 170% e, em relação às importações americanas, supera os 30%. Nessas condições e com tal diferencial de custos, não adianta exortar o empresário brasileiro a 'ser mais competitivo'. Como ele poderá concorrer? A globalização provoca, também, a redução dramática do valor dos negócios, tornando-se barato ao estrangeiro comprar empresas brasileiras, enquanto o inverso, logicamente, não é freqüente."
O "EQUÍVOCO" MUNDIAL DOS JUROS BAIXOS
"Isso é possível ao capital estrangeiro, porque o custo do dinheiro no País é muito caro. Como se pode concorrer no mercado interno pagando capital de giro a 65%, quando no exterior ele custa 6 ou 7% ao ano? Além do Brasil, só dois países têm taxas de juro tão elevadas: México e Venezuela. Será que somente estes, no mundo, praticam uma política econômica 'correta' e os restantes, incluindo EUA, Alemanha, Japão, até a Argentina, estão 'equivocados'? Essa a conclusão a que se chega... A supervalorização do Real e os juros na estratosfera acontecem em nome de uma política inflacionária com inegáveis resultados positivos. Em fevereiro de 1990, a taxa inflacionária mensal atingiu 84%, porque o governo havia emitido 100% da base monetária. Hoje, em vez de papel-moeda, o governo 'emite' dívida, por isso, a inflação que, antes era monetária, caiu. A dívida pública aumentou US$ 60 bilhões entre 1994 e 1997, simplesmente para cobrir o déficit de caixa do Tesouro Nacional."
DESMONTE DAS ESTRUTURAS PARA EXPORTAÇÕES
"Os problemas estruturais da economia continuam - e piorando. A União, os Estados e os Municípios estão quebrados, e o Banco do Brasil registrou déficit de US$ 8 bilhões em um ano. O lamentável resultado disso tudo é o desmonte das estruturas destinadas às exportações e o sucateamento do parque industrial, que exigiram muitos anos de vultosos investimentos e agora será muito complicado refazer novamente tudo, para gerar empregos. Pode-se constatar, pessoalmente, a atual situação da nossa indústria, transitando-se principalmente pela tradicional Mooca, hoje transformada num 'bairro industrial fantasma'. O mesmo acontece na área agrícola, onde somente o grande produtor tem condições de sobreviver, pois, como o pequeno agricultor poderá tomar empréstimo às taxas absurdas de juro vigentes, produzir e conseguir saldar a dívida? É impossível que se vá provocando continuamente forte desemprego sem haver alguma ruptura no campo sóciopolítico."
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