O Ponto Fraco das Pequenas Empresas
Ao contrário
do que geralmente se pensa, os principais problemas das micro, pequenas e médias
empresas não se resumem à insuficiência de recursos financeiros.
Na verdade, 80% dos problemas que os empresários desse segmento enfrentam
são de natureza estratégica e os restantes 20%, aproximadamente,
podem ser considerados de caráter organizacional. O diagnóstico
desmistifica as queixas mais comuns dos empresários - constantemente
registradas na mídia - de que, devido ao tratamento desigual que
elas recebem do sistema bancário, em comparação com as
grandes empresas, elas não obtém recursos. Essa constatação não é fruto de simples opinião
pessoal ou de tese acadêmica, mas resulta de pesquisa de campo realizada
em 101 empresas dos setores comercial, industrial e de serviços pelo
professor Adelino De Bortoli Neto, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, responsável pelo Programa de Formação de Consultores (Foco), realizado pela USP.
AS CAUSAS NÃO SÃO PERCEBIDAS
"Não obstante ela tenha sido iniciada há cerca de dez anos,
a situação então verificada continua hoje a prevalecer
de maneira idêntica ou até com maior intensidade do que anteriormente,
conforme podemos observar em acompanhamento permanente do segmento. Os fatores
que comprometem os resultados de uma empresa de pequeno e médio portes
escapam, muitas vezes, à percepção do empresário,
apesar de sua intimidade com as rotinas e processos desenvolvidos pelo empreendimento.
Eles conseguem detectar apenas sintomas e manifestações dos problemas
das empresas, sem estabelecer, porém, relações causais
com seus determinantes.
Os problemas empresariais compreendem um inter-relacionamento de causa e efeito:
o fator desencadeante de um problema pode ser efeito de outro, encontrando-se
ao final dessa cadeia um único problema nuclear. Dessa forma, os empresários
têm sido levados a combater os sintomas que saltam aos olhos, negligenciando
as verdadeiras causas."
PROBLEMAS ESTRATÉGICOS MAIS COMUNS
"Nas empresas pesquisadas, 82 apresentaram problemas de inadequação
na escolha e utilização dos recursos disponíveis (problemas
estratégicos) e apenas 19 indicaram ter insuficiência de recursos,
correspondendo, respectivamente, aos percentuais de 81,2 e 18,8%. As empresas
comerciais são as que mais se ressentem dessas deficiências: 80%
delas apresentam estratégias de atuação incompatíveis.
Por exemplo, a composição excessiva e/ou o desequilíbrio
quantitativo ou qualitativo de itens do estoque é o maior problema das
pequenas e médias empresas comerciais.
Os efeitos de tal desequilíbrio estendem-se, também, a outras
áreas da empresa. Há casos em que a empresa chega a perder clientes
por falta de certas mercadorias, apesar de manter estoque com grande variedade
de itens, porém de baixa movimentação. Outra conseqüência
inevitável dessa imobilização de recursos é a falta
de capital de giro.
Nas empresas industriais, a área de vendas encerra os mais sérios
problemas, como estrutura de preços rígida, devido à não
realização de descontos por quantidade e inadequação
na linha de produtos, que representam 73% das deficiências (no setor de
serviços alcança 81%...). Seus efeitos são tanto a queda
do volume de vendas quanto também o menor índice de lucratividade."
COMO RESOLVER ? "Os recursos à disposição
da administração, não sendo adequados, além de alocados
e utilizados de forma insatisfatória, impedem que a empresa alcance harmoniosamente
seus objetivos básicos, que definimos por LEE (Lucro, Expansão
qualitativa e quantitativa de vendas e Estabilidade financeira).
Estando as decisões de ordem estratégica estritamente relacionadas
à conduta do empresário, a maioria das dificuldades das micro
e pequenas empresas pode ser resolvida apenas com novas orientações
nas decisões.
Muitos empresários atribuem seu insucesso a fatores exógenos -
inflação, custo de mão-de-obra, tributos etc. - esquecendo-se
que, muitas vezes, as dificuldades decorrem de sua forma equivocada de agir.
Assim, qualquer programa de apoio deve privilegiar o treinamento do empresário,
para modificar a maneira de administrar recursos limitados."
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