Associativismo Fomenta Mudanças
Trabalhar trinta
anos no mercado ou ter sua própria indústria há catorze
anos não garante uma administração perfeitamente integrada
aos desafios dos novos tempos. Foi preciso que o catarinense Norberto Ramos
fosse estimulado por uma nova experiência, a Associação
de Aval e Fomento (Associaval), criada em outubro de 1994, para que pudesse
enxergar melhor seu próprio gerenciamento e, assim, partir para mudanças
importantes.
Como precisou passar por uma triagem, feita por técnicos do SEBRAE/SP,
para poder participar da associação, ele descobriu, por exemplo,
que seu metro quadrado de produção estava muito caro. Teve, também,
que fazer uma reciclagem pessoal, pois envolvia-se demais com o trabalho da
empresa, o que tomava conta do tempo que deveria dedicar à sua estratégia
empresarial. E vislumbrou a possibilidade de planejar seu crescimento, graças
ao potencial de troca de informações e tecnologias com os outros
21 membros da Associaval e ao crédito que estará disponível
para essa finalidade.
No depoimento a seguir, o proprietário da Norberto Ramos Indústria
e Comércio Ltda. - tel.: (011) 563-4208 -, que tem 85 funcionários
e é especializada em produtos de utilidades domésticas, como tampas
descartáveis para frituras e cabides de ferro cromado, fala sobre o impacto
do associativismo nas pequenas empresas.
COMO ENFRENTAR A MARÉ
"A Associaval é uma cooperativa que procura desenvolver a micro
e a pequena empresas de forma mais dirigida. Hoje, o empresário brasileiro,
principalmente o pequeno, não tem técnica administrativa nenhuma.
Diante de ciclos alternados de euforia ou depressão, ele vai agindo conforme
a maré. Nossa associação vai, então, ajudá-lo,
dando orientação e fomentando seu desenvolvimento ordenado, técnico.
Os pequenos costumam não sobreviver exatamente por falta de informações
e de apoio. Existem muitas dificuldades no acesso às linhas de crédito,
e a Associaval vai facilitar esse processo. Mas isso é bem diferente
de simplesmente liberar dinheiro para as empresas. No próprio trabalho
de implantação da cooperativa, houve conscientização
de todos os envolvidos de que não bastava assinar os contratos. Esse
esclarecimento levou-nos a patamares diferentes. Eu, por exemplo, tenho feito
investimentos, mas não com os recursos da Associaval, que pretendo usar
para uma coisa mais nobre.
De 3 mil candidatos, foram selecionados oitenta, e destes ficaram apenas 22.
O critério não foi relativo a irregularidades financeiras, nada
disso, foi relativo ao gerenciamento empresarial, ao histórico de cada
um. O processo foi liderado pelo SEBRAE/SP e patrocinado pelo Banco do Brasil.
Os selecionados fizeram um depósito fiduciário de risco, e nos
beneficiamos com um potencial de crédito na razão de um para dez."
ADMINISTRAR NÃO É EXECUTAR "Sucesso
não é aumentar preço, mas administrar de maneira mais eficiente,
e isso já estamos fazendo. Pedi ao SEBRAE/SP um completo diagnóstico
e uma análise de custos, um novo leiaute para nossa fábrica, que
fica no bairro de Americanópolis, e possivelmente venha a pedir uma assessoria
técnica sobre marketing. Alicerçado em informações
e técnicos especializados, o pequeno empresário só tende
a crescer. Nosso mal é querer fazer tudo ou agir muito por impulso.
É preciso delinear funções. Hoje, eu sinto que mudei, pois,
praticamente, não cuido mais da parte financeira, só faço
um acompanhamento e também apenas supervisiono a parte produtiva. Na
área de vendas, dou alguns retoques, sem me envolver excessivamente.
Hoje, eu procuro administrar, e não executar. Quando você pretende
transformar-se em dez pessoas, acaba perdendo a visão de conjunto.
Mas isso não implica obrigatoriamente terceirizar. Cheguei a fazer uma
experiência com terceirização, mas houve problemas de qualidade.
Isso funciona para grandes empresas, mas não ainda para as pequenas,
pois quem é terceirizado, na maioria das vezes, é pequeno, e isso
significa apertada margem de manobra.
Outro gargalo que é preciso cuidar é o relacionamento com os fornecedores
e com os compradores. O que vale nesse contato é a pontualidade dos prazos
e pagamentos, é a honestidade, a boa conduta comercial."
UMA BOA IDÉIA SURGE NA COZINHA
"Gosto de cozinhar e, quando me dedicava a frituras, fazia muita sujeira.
Peguei, então, um papel no escritório, grampeei, adaptei mais
ou menos na forma de uma frigideira, peguei arame de fio elétrico, fiz
um aro e coloquei em cima. Foi um sucesso entre os amigos, e resolvi patentear
o produto. Isso foi há catorze anos. Até hoje, nossa tampa descartável
para frituras vende bem. Normalmente, as necessidades vão desencadeando
novas idéias.
Também ouvi excelentes sugestões de clientes. Foi assim que me
interessei pelo ramo de cabides. Hoje, fazemos vários tipos de cabide,
inclusive para saia, toalhas e tênis, e estamos para lançar uma
linha infantil. Exportamos para a França, a Espanha e a Itália
e alguns países do Mercosul. Um dos erros do pequeno empresário
brasileiro é ainda não lutar por qualidade, diante da tese de
que se pode fazer algo pior, para vender mais barato. Eu penso diferente. Bem-vindo
o código do consumidor, pois teremos uma concorrência mais saudável,
com qualidade e princípios. Se Deus quiser, viverei cem anos e ainda
não terei atendido todo o mercado."
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