No Caminho da Luz
Dúvidas não faltam quando se trata de saber como economizar energia elétrica. Por onde começar? O que deve ser cortado sem causar prejuízo maior para a empresa? É necessário investir em um gerador próprio? Essas são perguntas que muitos dirigentes se fazem todos os dias na era do apagão. No entanto, antes de tomar qualquer providência nesse sentido, vale a pena conferir a orientação do especialista José Antonio Jardini, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em depoimento exclusivo, ele fala sobre a situação do País em relação à crise energética, além de esclarecer sobre os cuidados a serem tomados para minimizar os efeitos negativos do racionamento na produtividade das empresas.
PREVISÕES
"Na simulação que o operador nacional de sistemas faz, com 20% de racionamento, daria para administrar a situação até novembro, com as chuvas previstas na região Sudeste para o final de setembro. Se elas se anteciparem para agosto, como alguns meteorologistas vêm prevendo, o alívio virá mais cedo. Agora, se começar a chover apenas em novembro, daí vamos chegar ao fundo do poço. Como as previsões meteorológicas apresentam um risco de acerto que vai aumentando conforme a proximidade do tempo, o governo deve manter o racionamento pelo menos até novembro para recuperar um pouco do reservatório de água que foi perdido. Muita gente diz que a energia elétrica é algo barato no Brasil e, por isso mesmo, gastou-se sempre indiscriminadamente e, às vezes, até de forma ineficiente. Gerar vapor com eletricidade, por exemplo, é uma aberração, pois a geração a gás apresenta um rendimento bem melhor. Quando um profissional elabora um projeto de desenvolvimento de uma fábrica, os motores deveriam ser dimensionados exatamente para fazer o trabalho que precisam fazer. Em diversos casos, atualmente, há um desperdício de energia que provoca uma perda interna maior."
CUSTO MAIOR
"É importante que o custo da energia venha a ser considerado daqui para frente pelos empresários, porque, mesmo que não venha a faltar, a eletricidade vai ficar mais cara, ainda mais se for proveniente das termoelétricas que estão sendo construídas. As companhias de energia perderam muito dinheiro com essa crise, precisam fazer uma série de investimentos e certamente vão pleitear aumentos de tarifas. Com a maior utilização do gás natural pelas indústrias, também podem surgir problemas de ordem ambiental, pois ele não é poluente quando comparado ao óleo e ao carvão, mas passa a sê-lo em relação à energia elétrica. De maneira geral, ela representa 5% do custo da fabricação de um produto, e o cálculo para a economia deve ser feito sempre em cima do prejuízo que causa a falta de eletricidade para o negócio. As pequenas e médias empresas devem investir em fontes alternativas, como geradores, somente se tiverem um retorno muito rápido, pois essa crise deverá ir, no máximo, até o próximo ano. Para 2003, é de se supor que não vá mais faltar energia elétrica que, apesar de mais cara, sempre será a opção mais econômica para todos."
ASSOCIAÇÃO
"No momento, qualquer medida adotada pelo governo, como abaixar a tensão em 5%, é importante e vale a pena, tendo em vista a gravidade da escassez de energia para a sociedade. Os equipamentos não serão afetados, já que são projetados para funcionar bem, dentro de uma faixa de tensão que permite essa variação. Certos aparelhos importados do Japão ou dos Estados Unidos podem apresentar pequenos problemas, exigindo alguma atenção por parte dos usuários. Já existem consultorias no mercado designadas pela sigla Esco (Energy Saver Company), que fazem um levantamento da potência e do quanto se utiliza de eletricidade na empresa para indicar a melhor solução em cada caso. Em geral, elas costumam cobrar pelo resultado obtido e estão ligadas a bancos que podem facilitar investimentos nessa área para os empresários. A Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco) - www.abesco.com.br - deve ser consultada para certificar a qualidade desse tipo de trabalho."
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