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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 300 (04/01/1998)

Negócio Não se Aprende na Escola

Os currículos da maioria das disciplinas universitárias exibem deficiência de formação quanto aos aspectos empresariais práticos específicos, talvez por acomodação ou até ignorando que, nestes tempos de economia globalizada, por força das peculiaridades de um mercado que sinaliza para a extinção - ou, no mínimo, para a transformação radical - do emprego convencional, muitos alunos, mesmo sem vocação inata, deverão, provavelmente, optar pelo empreendimento próprio. Porém, presentemente, para fugir do insucesso e evitar frustrações irreversíveis, aos candidatos a empresário, ao sair da universidade, se não contarem com sólida retaguarda familiar de conhecimentos e vivência, só restará o caminho incerto do aprendizado "em campo", com todos os riscos que isso lhe poderá trazer. Essa foi a experiência vivida nos últimos dez anos pela médica veterinária e empresária Sirlei Rodrigues, do Centro Veterinário Bom Pastor - www.cvbompastor.com.br -, conforme relata no depoimento exclusivo a seguir. Em sua opinião, as universidades devem repensar os currículos, aperfeiçoando-os e atualizando-os para atender novas necessidades e anseios profissionais dos jovens, assim cumprindo em toda a sua inteireza a missão de preparar "para a vida" a que se propõem.

DIFICULDADES PARA O ESPÍRITO EMPREENDEDOR
"Desde o início, durante a época de faculdade, sempre tive a intenção de ter um negócio próprio. Hoje, mais experiente, consigo perceber com clareza as conseqüências da falta de preparação nas faculdades para as atividades empresariais relacionadas à profissão. Imagina-se que o futuro profissional irá sempre buscar por um bom emprego e nunca tentará ser empresário. Mesmo matérias como administração e economia rurais, no início do curso, despertavam dúvidas quanto à sua serventia prática para nós, no futuro, ou que ligação teriam com nossa profissão... Agora, considero fundamental para o sucesso empresarial a orientação que as faculdades pudessem oferecer, no âmbito das várias especialidades, no decorrer do curso. Alcancei o sucesso à custa de longos aconselhamentos com meu pai e de muitas conversas com amigos que me sugeriram diretrizes, apresentaram idéias, opções de caminhos, realmente fornecendo-me valiosa e inestimável orientação que supriram as deficiências acadêmicas, porque eu era totalmente inexperiente em administração."

COMO CONQUISTAR O CLIENTE
"Assim que me formei, fui trabalhar com pequenos animais e um ano depois montei a minha própria clínica. Para continuar na grande cidade teria de trabalhar com pequenos animais ou obter emprego na indústria, ou na área de zoonoses, mas isso não me atraía. No início do negócio fazia tudo sozinha, em seguida vieram a moça da limpeza, as secretárias, os tosadores e a gerente, ao todo seis funcionários. Deles exijo a melhor atenção às pessoas, porque seu salário depende do retorno de clientes satisfeitos - ativos, são cerca de 2 mil nomes cadastrados - tanto na clínica quanto na loja - pet shop -, onde vendemos rações, medicamentos, acessórios e oferecemos serviço de banho e tosa. Na opinião dos clientes, nossas instalações, bonitas e agradáveis, nem se parecem com uma clínica veterinária: eliminamos o muro e adaptamos o imóvel para abrigar a clínica e o pet shop, com estacionamento à porta. Para suprir a falta de eventos na área, realizamos há dois anos, com sucesso absoluto, a 'pet-farra', um inédito concurso anual de 'fantasias' para animais, visando também estreitar a sua integração com o dono."

MERCADO EM EXPANSÃO
"O segmento de pequenos animais está em contínuo crescimento: basta lembrar os milhões de animaizinhos de estimação que existem em São Paulo. O relativo isolamento e a conseqüente carência afetiva dos habitantes das metrópoles resultaram no aumento da população de animais de estimação, que retribuem 'com juros', por assim dizer, as atenções recebidas dos donos. O problema da falta de segurança tem contribuído para expandir a população de cães de guarda. As pessoas têm valorizado mais o seu animal de estimação, preocupando-se com a sua saúde, mantendo as vacinas atualizadas e fornecendo-lhe alimentos apropriados e de melhor qualidade etc. Mas, por outro lado, nos últimos anos, com o surgimento de muitas faculdades particulares, o mercado também está ficando saturado de veterinários. Por isso, quem já está estabelecido tem de tentar diferenciar-se para continuar existindo."


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