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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 302 (18/01/1998)

No Outro Lado do Balcão

Por não serem aventureiros e terem "os pés no chão", alguns empresários tradicionais preferiram fechar o negócio mas permanecer no segmento, talvez de uma forma menos arriscada, como representantes comerciais. São, geralmente, integrantes de uma geração que construiu ou solidificou, passo a passo e com enormes sacrifícios, empreendimentos a que se ligaram por fortes laços sentimentais, herdeiros de uma cultura empresarial paternalista e centralizadora e pouco afeita a novidades. Diante de dificuldades setoriais ou de alterações radicais e profundas do ambiente econômico, que não conseguiram prever, faltaram-lhes a necessária ousadia e visão estratégica de oportunidade para buscar, às vezes, até soluções simples, como a emigração para bairros periféricos, quando as áreas tradicionais estagnavam ou mergulhavam na irremediável deterioração. Foi o que aconteceu com Iso Schapira - Tel.: (11) 9910-5588 -, que, no entanto, comprova, em depoimento exclusivo, o mérito da sólida vivência e do profundo conhecimento desses representantes comerciais acerca do segmento e do dia-a-dia de seu negócio anterior que, na forma de valiosas experiências e sugestões, servem de inestimáveis subsídios para candidatos a empreendedor, bem como para os próprios empresários.

O NEGÓCIO COMO TRADIÇÃO FAMILIAR
"Durante 36 anos, entre 1958 e 1994, fui proprietário de uma revenda de móveis, empresa familiar tradicional no bairro de Vila Mariana, a Móveis Schapira, que resultou de uma "opção" praticamente imposta pela família. Antigamente, nossos pais obrigavam pelo menos um dos filhos a dar seqüência às atividades familiares, especialmente nos negócios. Formei-me técnico em contabilidade e, posteriormente, administrador de empresas. Durante as últimas três décadas apliquei os conhecimentos na empresa, porém, a situação foi modificando-se ao longo do tempo. Ao final do governo Collor, quando, de modo geral, as empresas foram duramente penalizadas, não tivemos mais condições de manter a loja. A isso soma-se outro fator determinante: decidindo romper a tradição familiar e dar liberdade de escolha a meus três filhos, nenhum interessou-se em dar continuidade ao negócio. Hoje, posso dizer que, felizmente, eles decidiram por outros caminhos, pois, do contrário, passariam pelas mesmas dificuldades e desenganos que eu."

IGNORANDO AS OPORTUNIDADES
"Outro motivo foram os pesados encargos trabalhistas e a dificuldade em conseguir mão-de-obra qualificada. No ramo de móveis, é necessário dispor tanto dos peões, quanto de pessoal especializado em montagem, desmontagem e lustração, e já não estava fácil conseguir essa mão-de-obra. Adquiríamos os móveis prontos de vários fornecedores, que os mandavam sem lustração, e o acabamento era feito na loja, de acordo com a necessidade do cliente. Trabalhávamos normalmente com dois ou três lustradores, mas chegamos a ter dez desses profissionais. Por acomodação - ou falta de visão estratégica do negócio –, sendo lojista tradicional, ignoramos a expansão da cidade em direção à periferia que abria, igualmente, a oportunidade para atender as necessidades emergentes de populações com razoável poder aquisitivo. Como outros, preferimos, equivocadamente, permanecer nos bairros e centros tradicionais do mercado moveleiro."

DETERIORAÇÃO DA SITUAÇÃO ECONÔMICA
"Em certa época, trabalhamos, também, com as linhas de eletrodomésticos e de tapetes, que eram exigência do cliente, basicamente das classes B, C e D. O pagamento era feito em 36 parcelas mensais, sem juros, com financiamento próprio, em carteira; e tínhamos condições não apenas de suportar a inflação mas até mesmo alguma queda temporária de vendas. Com a modificação do perfil do consumidor, que passou a adquirir menos móveis e mais produtos para lazer, divertimento e necessidades pessoais, das linhas "dura" e "branca". Apareceram, então, as empresas dedicadas a esse comércio, assim como de tapetes, de colchões etc. Casas de móveis como a nossa, que montávamos residências inteiras, tiveram de encerrar as atividades por falta de condições de enfrentar a concorrência das ‘especializadas’ e, também, dos shoppings especializados e os centros comerciais de móveis, surgidos para oferecer à clientela praticidade, comodidade e conforto."


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