Economia em Três Dimensões
O Brasil que surgiu com a estabilidade da moeda, com as privatizações e com a abertura de mercado mostrou que o empresário nacional possui capacitação gerencial para ser competitivo e aumentar a produtividade, mesmo em condições adversas às iniciativas empreendedoras. Embora o cenário econômico brasileiro apresente uma série de instabilidades e turbulências, o País desperta para nova fase de desenvolvimento tanto em nível interno quanto externo, com as exportações ocupando um lugar de destaque em termos estratégicos. O ano de 2003 foi marcado por incertezas e especulações de todas as partes com relação aos rumos da Nação em âmbito global, deixando muitos negócios em compasso de espera. Apesar da insegurança, é preciso que todos os dirigentes empresariais tomem consciência da necessidade de traçar um plano de ação para o período que se inicia, tomando como base os possíveis desfechos ou até mesmo a manutenção da situação atual. Em depoimento exclusivo, Cláudio Araújo Peçanha, diretor da BPE Investimentos - e-mail: [email protected] - Tel.: (11) 3269-5241, empresa gestora de fundos de investimento para pequenas e médias empresas, analisa três possibilidades de evolução da economia para 2004, indicando os procedimentos a serem tomados para cada caso.
MEDIOCRIDADE
"Se nós tivermos a manutenção do comportamento medíocre da economia em 2003 em todos os setores, o cenário para 2004 vai continuar apresentando um forte desemprego, um nível de tributação muito elevado e a possibilidade de recessão. Nós ainda não estamos chamando de recessão o que está acontecendo, mas tenderia a isso. Nessas circunstâncias, o empresário brasileiro deve procurar formas de melhorar a produtividade, procurando depender cada vez menos de financiamentos de uma forma geral. Essa configuração também vai determinar o mesmo nível da carga tributária do setor produtivo, assim como um volume muito baixo de investimentos em decorrência de um mercado de capitais extremamente atrofiado. Para que o empresário possa sobreviver nessa conjuntura econômica, ele vai precisar encontrar meios para aumentar a produtividade dentro do negócio como está, ou seja, não adianta abrir novas fábricas, contratar mais funcionários, porque tudo isso será penalizado no cenário de manutenção."
INFLAÇÃO
"Já o cenário econômico, dentro de uma perspectiva negativa, acarretaria um processo maior de falências empresariais, de inadimplências intersetoriais, envolvendo as negociações com os fornecedores. Como a primeira conta que o empresário brasileiro deixa de pagar é a tributação, existe um risco muito grande de comprometimento da estabilidade econômica do País, pois a arrecadação de impostos, que foi elevada em 2003, permitiu que o governo mantivesse um superávit primário relativamente bom, possibilitando a renovação do acordo com o FMI. Se houver uma recessão maior, conseqüentemente o governo vai deixar de cumprir as suas metas e, do ponto de vista histórico, teremos a volta da inflação. Nesse sentido, podemos afirmar que, na pior das hipóteses, vamos assistir a uma tempestade, com o retorno do processo inflacionário. Não restará opção ao empresário brasileiro, a não ser demitir pessoal para enxugar a estrutura e não pagar impostos. Não estamos recomendando que ele faça isso, mas objetivamente é o que vai acontecer."
INVESTIMENTOS
"Podemos também prever um cenário otimista, porque temos forças interagindo no atual governo que podem levar a essa configuração. Uma delas é manutenção da abertura do mercado, a outra é a Alca, mas o importante é que o governo deixe de controlar e atrapalhar o processo de competitividade nacional. O terceiro fator é continuar mantendo a taxa de câmbio livre para garantir a possibilidade de um fluxo de recursos externos maior. Os fundos de investimento estrangeiros só mandarão dinheiro para o Brasil se tiverem a segurança de que a taxa de câmbio vai flutuar livremente. Nesse cenário, o empresário tem que ousar, tem que crescer. Ele não pode perder a oportunidade de melhorar o seu negócio, aumentando a base produtiva com o mínimo de endividamento, de preferência buscando capitais de investimento de longo prazo."
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