Recuperação à Vista
A nova lei de falências permite hoje aos empreendedores brasileiros nova fórmula de negociação do passivo empresarial, incluindo a participação dos credores na elaboração de um plano de recuperação para o negócio. Essa oportunidade pode evitar a exclusão de várias organizações que, muitas vezes, acabaram entrando em dificuldades financeiras em razão de fatores de mercado, alheios à vontade e à capacitação gerencial. O espírito que norteia essa medida recente revela a ineficiência da legislação antiga, que praticamente inviabilizava qualquer iniciativa no sentido de salvar uma empresa, comprometendo o trabalho de uma vida inteira de esforços e de dedicação. Para Fritz F. Johansen Neto, diretor da Polipolymer Plásticos de Engenharia Ltda - e-mail: [email protected] - Tel.: (11) 3071-2118, a mudança talvez tenha chegado tarde. Depois de dez anos de crescimento contínuo, a Polypolymer Comercial entrou em concordata em 2003 e teve a falência decretada em janeiro deste ano. Em depoimento exclusivo, mas com uma fé inabalável na sua capacidade profissional e pessoal de superar a crise, Johansen garante que não se arrepende de nada, mas aponta as falhas estratégicas que seriam corrigidas se houver uma segunda oportunidade.
ÁPICE
"O nosso auge foi em 1999, quando chegamos a comercializar 1.200 toneladas/mês de resinas plásticas, crescendo vertiginosamente, com um leque grande de produtos. Montamos a Polipolymer Plásticos de Engenharia em 2000 para atender a GE Plastics, porque eles nos nomearam como primeiros distribuidores oficiais no Brasil. Nessa época, tínhamos a Polipolymer Comercial e passamos a ter também a Polipolymer Plásticos de Engenharia. Durante esses anos todos, nossa atuação ocorreu em nível nacional, uma vez que nós não tínhamos capacidade para exportar, porque as próprias petroquímicas cuidam dessa parte. A nossa estratégia consistia em fixar-nos em pequenos transformadores, que atingiam um volume de até 50 toneladas/mês. Em muitos casos, o nosso preço para essas empresas era muito próximo de um grande transformador que comprasse direto da indústria petroquímica, levando em consideração o mix de serviços que prestávamos."
DIFICULDADES
"A partir de 2002, entramos em um processo de insolvência muito grande em razão das mudanças nas regras do jogo do mercado. Nós tínhamos materiais em consignação e pagávamos com 97 dias de prazo médio e sem encargos. De repente, nós fomos obrigados a pagar em 28 dias com encargos, o que enxugou o nosso caixa em praticamente três meses. Isso aconteceu porque a indústria petroquímica começou a tratar as resinas plásticas como commodity, obrigando-nos a comprar na alta e a vender na baixa. Quando pedimos concordata em agosto de 2003, o risco era muito grande, porque nós não tínhamos capital guardado, mas somente o nosso crédito, que foi retirado pela indústria. Nós fomos buscar parceiros na concorrência e no exterior e conseguimos fechar um acordo com uma empresa americana que existe desde 1911, está presente em 76 países e fatura algo em torno de 1 bilhão e 320 milhões de dólares por ano. No entanto, nossos credores não aceitaram a negociação proposta, o que nos levou à falência."
SOBREVIVENTE
"O que fazemos hoje é representar várias empresas, dar assistência técnica e prestar consultoria empresarial para o segmento de plásticos, tanto na área comercial quanto na área técnica. Existe uma nova lei de falências que está em vigor, mas nós não sabemos como é que o nosso processo vai ser julgado, se é na antiga lei ou na nova. Se pudesse voltar, eu teria procurado crescer de maneira mais lenta e estruturada. Dentro do nosso segmento, nós deveríamos lutar para ter regras mais claras entre os parceiros, com metas estabelecidas sempre a médio e longo prazos. Para o empresário que está passando por uma situação parecida, o mais importante é contar com ele mesmo e nunca perder aquilo que ele tem de melhor, ou seja, tentar enxergar o que de bom pode ser preservado, que é o conhecimento, o relacionamento pessoal com clientes, fornecedores, além do histórico de atuação no decorrer da vida empresarial e profissional."
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