De Olho na Economia
Depois que o mercado recebeu com surpresa os dados divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostrando que o PIB brasileiro caiu 1,2% no terceiro trimestre deste ano, nada melhor do que ouvir um especialista na configuração dos possíveis cenários econômicos para 2006, com enfoque especial para o universo corporativo, para estabelecer novas metas com base em alicerces mais sólidos. Embora o crescimento da economia brasileira seja quase um refrão dos inflamados discursos políticos, não se pode negar a fragilidade estrutural da economia nacional que ainda amedronta todos aqueles que vivem do empreendedorismo e da conseqüente demanda de negócios para alavancar as empresas. Em depoimento exclusivo, Luiz Guilherme Piva, diretor de finanças e economista- chefe da BDO Trevisan Auditoria, Consultoria e Outsourcing - e-mail: [email protected] -, faz um balanço do que foi 2005 e traça um cenário otimista para o próximo ano, destacando os sinais que devem ser observados para que se possa detectar os rumos da economia, bem como os cuidados a serem tomados com a solvência das dívidas a serem contraídas, além da atenção redobrada para a análise do comportamento das taxas de juro e da questão cambial.
FECHAMENTO
"O ano de 2005 deve registrar um crescimento de 3%, o que representa um desempenho mediano do ponto de vista de que é o segundo ano de crescimento depois de vários períodos que passamos de dificuldade. Mas decepciona em comparação com países emergentes, pois nós estamos bem abaixo da média e também porque o Brasil precisa de um crescimento muito maior do que este. Desfrutamos ao longo do ano de condições muito propícias para que pudéssemos experimentar um crescimento um pouco maior em razão de uma taxa de inflação muito baixa e de uma liquidez internacional muito farta. Poucos períodos históricos tiveram um afluxo de capitais estrangeiros e de exportações em alta. Toda essa conjuntura econômica possibilitaria juros menores, mas o governo acabou optando por trabalhar com taxas muito altas e acabou errando na dose."
PERSPECTIVAS
"O período de 2006 tem tudo para ser um ano de crescimento. Primeiro, porque tivemos um crescimento ruim que só tende a melhorar. Segundo, porque a taxa de juros deve continuar caindo e a inflação vai continuar baixa, sem sair de controle. As pressões que existiam sobre o petróleo estão relativamente domadas e a liquidez internacional continuará farta. O que existe de aspecto negativo para 2006 é que, embora esteja em queda, a taxa de juros ainda vai continuar representando um custo financeiro para a dívida pública muito pesado. Um segundo aspecto, que tem muito a ver com o mundo empresarial e deve causar grandes impactos na vida econômica do País, é a questão cambial e as atividades de comércio exterior. O nível de juros mais alto do mundo que praticamos há algum tempo provoca a entrada forte de recursos externos que vêm especular capital, uma vez que o Brasil paga bem, mas é cobrado como se fosse um país mal pagador."
SINAIS
"É preciso ficar de olho no comportamento dos juros de curto e longo prazos e também no câmbio, por conta das exportações e das importações. A principal recomendação é não ter dívidas ou ter poucas dívidas, de médio e longo prazos, com juros pequenos. Como é irreal falar para um empresário não ter dívidas, caso contrário a empresa não cresce, a dívida deve ser encarada como uma forma de investimento e não para cobrir gastos. Que seja para promover sua ampliação, a modernização da empresa e que seja solvente, isto é, num prazo compatível com receitas e com custo financeiro compatível com a capacidade de pagamento. A dívida insolvente é um caminho muito curto para problemas operacionais. Além disso, todo empresário tem que ter uma boa gestão interna. Por isso, cada vez mais é preciso profissionalizar, enxugar, modernizar e racionalizar custos. As entidades representativas da classe empresarial possuem condições de colaborar para a mudança do cenário em 2006, pois uma proposta abraçada por um universo de pequenas e médias empresas assume uma força muito maior e pode virar lei."
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