Empreendedorismo de Alma Acesa
O histórico da livre iniciativa no Brasil demonstra que a ação empreendedora sempre se desenvolveu em razão da necessidade iminente de uma forma digna e independente de sobrevivência. No entanto, o perfil de muitos dos novos empresários que estão investindo no próprio negócio está mudando nos últimos anos. A busca da realização de sonhos e de ideais de vida, associada a uma rotina empresarial que nem sempre satisfaz a inquietação espiritual daqueles que desejam um estilo de vida diferenciado, está fazendo com que executivos bem posicionados nas organizações em que trabalham troquem esse status pelo risco de investir na criação e na abertura de uma empresa. Esse é o caso de Hugo Delgado, um ex-executivo mexicano da área financeira que decidiu abandonar de uma vez por todas a identidade corporativa, quando veio a trabalho para o Brasil, para se dedicar integralmente à paixão pela culinária e por restaurantes com atendimento especializado. Hoje, como proprietário e gerente geral da Abaetetuba e do Obá Restaurante - www.obarestaurante.com.br, em São Paulo, ele se sente realizado e, em depoimento exclusivo, relata como foi difícil, mas necessária, a transição de empregado a empreendedor, que contou com a orientação de profissionais especializados.
INQUIETAÇÃO
"O fato de eu ter um perfil diferente daquele dos executivos de finanças me ajudou muito, porque todos me viam como uma pessoa com visão de negócios, uma vez que eu sabia falar de marketing e de outras áreas também. Porém, a inquietude que me atormentava vinha de fora da empresa, pois eu tinha muitos planos a realizar, ligados às artes em geral, especialmente cozinhar e ser anfitrião. Nesse sentido, eu sentia que a minha carreira empresarial em finanças me deixava viver boa parte de mim, mas também me deixava incompleto. Foi então que comecei a pensar em uma forma de ser inteiro, para ser um só do ponto de vista pessoal e profissional, com a finalidade de juntar todos os meus talentos. Quando fui transferido para o Brasil, decidi que era aqui o meu lugar e consegui reunir força e coragem para sair da empresa e montar um plano de negócio utilizando todo o meu potencial criativo."
PARCERIAS "O negócio do restaurante foi extremamente difícil em termos de números. Eu sabia que seria um desafio e iria manter meu cérebro funcionando, pois tenho um time de cozinheiros e de garçons que fui montando, mas, ao mesmo tempo, tinha medo de perder o contato com os profissionais do mercado com os quais havia uma troca muito rica de experiências e de informação. Por isso, na montagem do estabelecimento, decidi que tinha que ter uma estrutura para não perder essa interlocução, o que me levou a fazer uma seleção de sócios que demorou cerca de um ano e meio para ser fechada. Como eu sabia que ia ser uma necessidade minha de convivência com essas pessoas, ao sair do mundo empresarial, criei esse minicomitê. Por sorte, encontrei parceiros que tinham o mesmo interesse em ter contato com o cliente, sem a pressão de querer apenas ganhar dinheiro. Para o futuro, pretendemos abrir mais três ou quatro restaurantes em São Paulo, mas junto com pessoas que também queiram isso. Hoje, somos seis sócios que não querem ter helicóptero e casa na praia, mas, sim, qualidade de vida."
FOCO
"Nós pensamos em atingir três grupos de clientes muito importantes para o restaurante. O primeiro grupo são os gourmets, porque aqui temos culinária do México, do Brasil, da Itália e da Tailândia. O outro grupo seria os exploradores, ou seja, as pessoas que adoram viajar, que sempre estão procurando experiências novas e que têm essa facilidade cultural e entusiasmo não só por comida mas também pela arte e pelos costumes em geral. O terceiro grupo, que talvez seja o mais significativo para nós, é o que chamamos de pessoas de alma acesa, que são aquelas que têm a sensibilidade para procurar o que é feito de forma autêntica e verdadeira e que pode ser apreciado, em cada detalhe, daquilo que oferecemos. Acredito que a sociedade atual está quebrando os antigos padrões profissionais, permitindo que surjam novos perfis de empreendedores que podem exercer a intuição e as habilidades por meio do empreendedorismo."
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